O aproveitamento da água nas usinas

Recursos naturais

Claudio Vaz

Há muito tempo a escassez crescente de águas de boa qualidade no mundo, e suas possíveis consequências vem sendo discutida por vários setores da sociedade, inclusive pelo setor sucroalcooleiro, que tam­bém não está imune às fortes pressões ambientais, principal­mente devido à grande quantidade de projetos de expansão e de implantação de novas unidades industrias. Com isso, a questão do uso mais racional e eficiente da água nesse setor precisa passar urgentemente da teoria à prática.

Para uma melhor racionalização do consumo de água na indústria, é necessário e fundamental avaliarmos não só as tec­nologias específicas já disponíveis para o setor, mas também as tecnologias existentes e disponíveis em outros setores, que sejam passíveis de serem aplicadas no setor sucroalcooleiro, mesmo que para tal sejam necessários alguns ajustes. Além da avaliação das tecnologias existentes, é necessário também bus­car e apoiar o desenvolvimento de novas ideias focadas espe­cificamente nas condições do setor, sem esquecer que cada novo problema é, antes de tudo, uma oportunidade para esti­mularmos nossa criatividade na busca por soluções efetivas.

Da Teoria à Prática

É comum encontrarmos indústrias que desejam iniciar um trabalho de racionalização de águas em uma usina, entretanto, nem sempre elas possuem uma visão muito clara do que deve ser feito, ou mesmo, dos resultados que podem ser obtidos. Assim, algumas considerações gerais podem ser úteis para o encaminhamento de um trabalho de racionalização de águas:

  • Um trabalho de racionalização de águas pode ser de­senvolvido segundo diversos níveis de profundidade, desde uma rápida avaliação superficial para a identificação das opor­tunidades mais visíveis e imediatas, até um estudo detalhado de mapeamento de todas as entradas e saídas de águas e efluentes, com avaliação técnico-econômica das diversas al­ternativas e respectivas prioridades. Nessas alternativas, de­vem ser consideradas tanto as possibilidades de redução de consumo quanto as possibilidades de reuso.

  • Preservando-se o devido nível de profundidade deseja­do, como passo inicial de um trabalho dessa natureza, deve-se levantar o balanço de entradas e saídas de águas e efluen­tes, tanto no aspecto quantitativo (vazões e periodicidades de geração) quanto no qualitativo (contaminantes).
  • As alternativas para uma melhor raciona­lização de águas nas usinas são muitas e devem ser analisadas sempre em conjunto ara a identificação das alternativas de reuso mais promissoras é fundamental conhecermos, para cada possibilidade de interesse, de um lado, a quantidade e a qualidade da água disponível e, de ou­tro lado, a quantidade e a qualidade da água necessária, de forma a permitir a melhor compatibilização entre a oferta e a demanda de águas. Quando a qualidade disponível não for suficiente para atender uma certa aplicação, deve ser considerada a possibilidade de introdução de uma etapa de tratamento da água disponível para adequá-la à aplicação.
  • A segregação das diversas correntes de água em níveis de qualidade (por tipo e grau de contaminação) facilita, em muito, a sua possível reutilização.

  • As águas oleosas, quando misturadas a outros efluentes, reduzem significativamente as possibilidades de reuso de toda a mistura, o que pode ser evitado introduzindo-se uma etapa de tratamento específica para água oleosa. As águas oleosas (águas de moendas, águas de lavagem de veículos, águas de oficinas, etc.) podem ser tratadas com facilidade por meio de unidades compac­tas que utilizam o processo de flotação, separando-se os óleos e graxas com eficiência e confiabilidade, produzindo-se uma corren­te tratada clarificada e límpida, com teor de óleos e graxas abaixo do teor requerido pela regulamentação ambiental para descarte (até 2Oppm). Na maioria dos casos, a água oleosa, após o trata­mento, pode ser reutilizada para operações de lavagem em geral, o que é especialmente interessante na operação de lavagem de peças mecânicas e veículos, possibilitando assim o fechamento do circuito de águas oleosas e evitando a contaminação ambiental por óleos. Os efluentes oleosos oriundos da refrigeração de man­cais da moenda também podem ser perfeitamente tratados com sistemas desse tipo.

  • Um dos itens de maior peso na racionalização de águas em uma usina é a água utilizada na lavagem de gases de caldeira. O sistema deve ser fechado com recirculação total da água, e sem a mistura dessa corrente com a água de lavagem de cana. O projeto de um sistema de tratamento de água de fuligem deve garantir a possibilidade de expansão de forma compatível com as possíveis expansões da própria industriam, sem que haja urna perda do in­vestimento já realizado.

  • Em muitos casos, a redução na quantidade de água nova empregada nos condensadores fica limitada pela necessidade de temperaturas mais baixas no processo, tal que a forma mais sim­ples de se garantir uma água confortavelmente fria é através da admissão de água nova de rio. Com isso, cria-se ainda uma grande disponibilidade de água regressa dos condensadores que, no final, vai originar uma grande quantidade de água residual, mesmo con­siderando-se as diversas formas de reuso possíveis. Somente com sistemas eficientes de refrigeração é possível recircular de forma eficaz as águas dos condensadores, reduzindo-se a alimentação de água nova para esse fim.

  • Recursos naturais Tratamento de Águas Residuais por Flotação Sistema de Tratamento de Água de Fuligem tema de Tratamento Sistema de Tratamento de água oleosa A água de lavagem de cana, embora venha sendo reduzida à medida que a quantidade de cana picada é aumentada, ainda é bastante importante no balanço global de águas. Mesmo com a entra­da em operação de sistemas de lavagem a seco, a água ainda deve ser mantida em parte do processo. É possível reduzir significativamente a quantidade da água utilizada na lavagem de cana mediante a introdução de um sistema rápido e otimizado de tratamento físico-químico para a remoção de sóli­dos insolúveis (processo com tempo de retenção inferior a 30 minutos), em lugar das velhas caixas de decantação atuais. Devido à maior rapidez do pro­cesso é possível reduzir em muito a quantidade de água armazenada no sistema, possibilitando a dimi­nuição da quantidade de água purgada e garantin­do uma qualidade muito superior da água tratada. Ainda, devido à redução drástica na quantidade de água envolvida no processo, pode-se abrir mão da correção de pH com cal que é feita normalmente para melhorar o controle microbiológico do meio.

  • Racionalizar a água As alternativas para uma melhor racionaliza­ção de águas nas usinas são muitas e devem ser analisadas sempre em conjunto, considerando-se as suas influências no balanço de águas da indústria como um todo, tendo-se sempre em mente que toda e qualquer solução deve ser desenvolvida caso a caso, isto é, específica para cada usina. Projetos de expansão da produção ou de implantação de novas unidades industriais constituem-se excelentes oportunidades para uma revisão do balanço de águas e efluentes, possibilitando compatibilizar o setor com os conceitos mais modernos de integração da in­dústria com o meio ambiente. Nesse processo de renovação, a criatividade deve ser valoriza­da e incentivada através de parcerias entre a indústria e empresas de fornecimento capazes de trazer novos ventos para o setor. Assim como a água de lavagem de cana, as águas com teores residuais de açúcar originárias da lavagem de equipamentos, pisos, etc. podem ser tratadas físico-quimicamente para permitir o seu re­ciclo, reduzindo assim a necessidade de introdução de novas águas. Paralelamente ao reciclo contínuo dessas águas, obtém-se uma concentração gradativa de açúcares no meio, favorecendo uma alternativa de reaproveitamento desses açúcares no proces­so fabril. Como consequência, tem-se a geração de uma receita adicional e, por outro lado, a redução da necessidade de sistemas de tratamento bioló­gico ajuzantes que são necessários e obrigatórios para a redução da carga orgânica de açúcares. Es­tudos e testes, inclusive em escala industrial, estão sendo conduzidos pela ENGENHO NOVO nesse sentido durante a presente safra.

Racionalizar a água

As alternativas para uma melhor racionaliza­ção de águas nas usinas são muitas e devem ser analisadas sempre em conjunto, considerando-se as suas influências no balanço de águas da indústria como um todo, tendo-se sempre em mente que toda e qualquer solução deve ser desenvolvida caso a caso, isto é, específica para cada usina.

Projetos de expansão da produção ou de implantação de novas unidades industriais constituem-se excelentes oportunidades para uma revisão do balanço de águas e efluentes, possibilitando compatibilizar o setor com os conceitos mais modernos de integração da in­dústria com o meio ambiente. Nesse processo de renovação, a criatividade deve ser valoriza­da e incentivada através de parcerias entre a indústria e empresas de fornecimento capazes de trazer novos ventos para o setor.

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